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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ela



I

   Foi como um passe de mágica. Nunca existiu. No instante seguinte, estava lá, de pé. Não nasceu, simplesmente apareceu. Sem família, sem história, sem memória. De maneira inexplicável, dominava o idioma, sabia os nomes das cores e o valor de pi. Andava normalmente, embora aqueles fossem seus primeiros passos. Olhou para o lado e o viu. Ele apenas a observava, parecia incrédulo. Com um misto de admiração e surpresa, ele aproximou-se devagar e tocou em seu braço. Ela recuou.

Ele: Tudo bem.
Ela: Quem é você? Quem sou eu? Onde estamos?
Ele: Eu te trouxe para cá. Nós estamos em algum lugar qualquer. Isso não importa. O que importa é que eu te amo!
Ela: Você me ama?
Ele: Sim! E você também é apaixonada por mim...
Ela: Sou?
Ele: É.

II

   Foi como num passe de mágica. Nunca haviam se visto. Um mês depois estavam lá, juntos, apaixonados. Ele não a procurou. Simplesmente a idealizou num momento de solidão e ela apareceu. Sob um resquício de chuva, pelo qual não valia a pena abrir o guarda-chuva, eles voltavam de algum evento qualquer. Conversavam empolgadamente. Ela olhou para o lado e ficou incomodada. As pessoas na rua os encaravam como se ele falasse com um fantasma. Como se ela não fosse ninguém. Ela parou. Ele olhou para trás.

Ela: Isso existe?
Ele: O quê?
Ela: Nós. Nós existimos?
Ele: Claro! Para todo o sempre.
Ela: E eu? Existo?
Ele: Vamos... A chuva está engrossando.
Ela: ...

III

   A mágica estava no fim. Era como se não se conhecessem mais. Um dia após todo o sempre, ele havia conhecido outra pessoa. Uma pessoa que tinha família, história, memória. Que não sabia o valor exato do pi, mas com quem ele podia andar na rua sem ser visto como louco. Foram afastando-se, afastando-se, afastando-se até que a distância se tornou tão grande que um perdeu o outro de vista. Num ponto de ônibus, em uma tarde com sol, se encontraram pela última vez. Ele havia mudado o visual. Deixou a barba crescer, cortou o cabelo bem curto e furou a orelha esquerda. Ela era ela. A mesma.

Ela: Então é isso?
Ele: Acho que sim...
Ela: Tudo bem. Foi divertido... Não foi?
Ele: Não tenha dúvidas disso.
Risos.
Ela: Se cuida.
Ele: Você também.

   Ele virou de costas e foi embora. Ela sumiu. Ele conseguiu encontrar aquilo que tanto sonhou em achar. Aquilo que o fez perder a lucidez. Aquilo que projetara nela durante todo esse tempo. Ela não existia. Não havia ela. Nunca houve. Era ele e só.

4 comentários:

  1. GREAT que nem algodão doce! Gostei mesmo, se estivesse em sala eu ficaria te olhando e daria uma nota ótima nesta redação!

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  2. Piadas internas a parte fico muito feLiz que tenha gostado. Mas escrever pra ganhar só 2400 é muito pouco Lucas... Eu acho. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  3. Ai que triste! :( Muito lindo o texto, Gusta!

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