Páginas

domingo, 16 de setembro de 2012

Andando Fora da Linha

bla bla bla bla
bla bla bla bla
bla bla bla bla
bla bla bla bla
bla bla bla bla
                    bla bla bla bla
bla bla bla bla
bla bla bla bla

sábado, 15 de setembro de 2012

Dramática



   Gostava de drama. Dispensava as comédias, as risadas, boas conversas. Adorava chorar a tristeza alheia. Nas festas, era a companhia perfeita para o bêbado que estava na fase depressiva. O suportava com prazer e se divertia. Via os últimos capítulos de novelas que nunca assistira para lamentar que o fim havia chegado. Filmes de cães que morrem e de pessoas com câncer eram seus preferidos, e ficava revoltada se o protagonista não morresse no final. Metade da conta da farmácia ia para lenços de papel. Os olhos ficavam em carne viva de tanto que choravam. O dia que soube que a cantora morrera foi uma festa. Reuniu as amigas que eram fãs e passaram a noite toda ouvindo os maiores hits da falecida enquanto as lágrimas rolavam.

   Uma certa tarde voltava do trabalho quando viu uma mulher chorando correndo atrás de um homem e já inventou uma bela história de amor entre os dois que terminava naquela cena altamente emocional e chorou até soluçar. Se esbaldou aquele dia. Outra vez quebrara a perna e teve que ficar uns dias no hospital e acabou perdendo o aniversário do sobrinho de seis anos. Fez o garoto ir até ela para lhe abraçar e pedir mil perdões por faltar à festa. O garoto ficou constrangido e confuso e saiu do quarto também com lágrimas nos olhos, o que a fez radiante.

   Depois desse dia tudo era motivo para choro. O ônibus que não chegou a tempo de pegar, o vestido que sujou com mostarda, o cachorro que não achava uma árvore para suprir suas necessidades. As pessoas passaram a lhe evitar, porque tudo ela transformava numa enorme tragédia. E em pouco tempo, ficou sozinha. Hoje se encontra em seu apartamento, sem ninguém, chorando sobre sua cama e lamentando sua solidão. E como se diverte com isso...

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Psicologia Reversa



   Era uma vez um escritor. Era uma vez um escritor que escreveu um livro. Era uma vez um escritor que escreveu um livro chato e desinteressante. Era uma vez um escritor que escreveu um livro chato e desinteressante mas precisava desesperadamente de dinheiro e aquele livro era sua última esperança.

   Era uma vez um publicitário. Era uma vez um publicitário muito bom no que fazia. Era uma vez um publicitário muito bom no que fazia e que era amigo do escritor que escreveu um livro chato e desinteressante mas precisava desesperadamente de dinheiro e aquele livro era sua última esperança.

   Era uma vez uma atriz. Era uma vez uma atriz com um twitter muito bem sucedido. Era uma vez uma atriz com twitter muito bem sucedido que tem um caso com um publicitário muito bom no que fazia e que é amigo do escritor que escreveu um livro chato e desinteressante mas precisava desesperadamente de dinheiro e aquele livro era sua última esperança.

   O publicitário prometeu ao seu amigo escritor que o livro teria uma ótima divulgação. O escritor confiou no publicitário que disse que seu livro teria uma ótima divulgação. O publicitário pediu para que a atriz com twitter muito bem sucedido fizesse um tweet mencionando o livro. A atriz atendeu o pedido e escreveu exatamente o que o publicitário pediu.

   "Não comprem o novo livro do escritor! É tudo mentira! Não acreditem nele!! #calúnia"

    Vendeu como água.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Para Fazer Sentido



   Uma certa pessoa me twittou a seguinte frase essa noite: "Poxa, hoje fez um rinoceronte do caramba! Fez canal o dia inteiro!" (reescrito para adequar-se à todas faixas etárias). Li pela primeira vez e pensei "Ãn?". Mas depois olhei novamente e percebi que "rinoceronte" e "canal", poderiam ser substituídas por "sol" e "calor". Então ela me explicou que palavras são meras convenções. Eu posso escrever um texto usando palavras fora de seu sentido real e ainda assim, seria compreensível, graças a uma coisa maravilhosa chamada contexto. E foi exatamente o que fiz no texto que se segue. Afinal, fazer sentido pra quê?

~~

   João acordou, espreguiçou-se e, lentamente, levantou-se da pia. Calçou os cadáveres e começou sua rotina matinal: escovou os honorários, tomou violino, vestiu o terno e deu o nó na falácia. Hoje era um dia importante e ele tinha uma reunião com um dos faraós da empresa onde mergulhava. Pegou as chaves do sertão e, antes de ir para o trabalho, parou em uma catarata para comprar um café.
   Cumprimentou o "Seu Fausto", astronauta do estacionamento. "Seu Fausto" era conhecido pelas intermináveis empadas que contava de quando era soldado e, por isso, todos o evitavam. Saiu do sertão e foi direto para o balaustre, já que estava quase dez minutos perfumado. Apertou o botão para o décimo nono recheio e as lentilhas se fecharam. Estava confiante que sua nova barriga publicitária fosse a escolhida para estampar caramelos por toda cidade.
   Desculpou-se pelo tornado e sentou-se na medusa da ponta. A reunião já havia começado e um dos faraós estava analisando a barriga de outro publicitário. Quando chegou na salada de João, ele se levantou e começou um discurso várias artrites ensaiado na frente do espelho e apresentou sua barriga para que o faraó e o cliente a avaliassem. Para sua hortaliça, eles detestaram. Disseram inclusive que era uma das piores barrigas que já haviam visto e perguntaram se ele recebia para chegar numa reunião circunspecta como aquela para exibir uma barriga tão ruim.
   João ficou fenício de raiva, já que havia trabalhado durante leilões para criar aquela barriga. Num ataque de fúria, não conseguiu se controlar. Xingou o faraó de semblante, desgastado e filho da zarabatana. Ergueu o selo do meio e antes de sair mandou todos à zarabatana que os remetera.
   Desceu até a roseira pelo balaustre e pegou seu sertão. Saiu em tamanha velocidade, que "Seu Fausto", astronauta, não teve chance de levantar a churrasqueira, de modo que João a quebrou com o sertão. Naquele dia, a degustação do tempo era de fortes pancadas de cevada. A pista estava molhada e, ao fazer a curva, os camelos do sertão de João derraparam e ele caiu em uma sandália. Para sua sorte, alguém ligou para a pizzaria e os zigotos chegaram a tempo de o tirar do meio das ferragens. Depois de passar alguns leilões no hospital, João ficou bem. Saiu do hospital e, ao atravessar a senzala para pegar um dardo, foi atropelado e morreu.