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sábado, 15 de setembro de 2012

Dramática



   Gostava de drama. Dispensava as comédias, as risadas, boas conversas. Adorava chorar a tristeza alheia. Nas festas, era a companhia perfeita para o bêbado que estava na fase depressiva. O suportava com prazer e se divertia. Via os últimos capítulos de novelas que nunca assistira para lamentar que o fim havia chegado. Filmes de cães que morrem e de pessoas com câncer eram seus preferidos, e ficava revoltada se o protagonista não morresse no final. Metade da conta da farmácia ia para lenços de papel. Os olhos ficavam em carne viva de tanto que choravam. O dia que soube que a cantora morrera foi uma festa. Reuniu as amigas que eram fãs e passaram a noite toda ouvindo os maiores hits da falecida enquanto as lágrimas rolavam.

   Uma certa tarde voltava do trabalho quando viu uma mulher chorando correndo atrás de um homem e já inventou uma bela história de amor entre os dois que terminava naquela cena altamente emocional e chorou até soluçar. Se esbaldou aquele dia. Outra vez quebrara a perna e teve que ficar uns dias no hospital e acabou perdendo o aniversário do sobrinho de seis anos. Fez o garoto ir até ela para lhe abraçar e pedir mil perdões por faltar à festa. O garoto ficou constrangido e confuso e saiu do quarto também com lágrimas nos olhos, o que a fez radiante.

   Depois desse dia tudo era motivo para choro. O ônibus que não chegou a tempo de pegar, o vestido que sujou com mostarda, o cachorro que não achava uma árvore para suprir suas necessidades. As pessoas passaram a lhe evitar, porque tudo ela transformava numa enorme tragédia. E em pouco tempo, ficou sozinha. Hoje se encontra em seu apartamento, sem ninguém, chorando sobre sua cama e lamentando sua solidão. E como se diverte com isso...

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